Vou escrever sobre algo que tinha pensado que nunca escreveria, pelo menos por aqui, pois não foi com este objectivo que criei o blog. Todavia, e atendendo ao contexto actual que envolve o meu estado de espírito escreverei.
Estive num workshop sobre a “Tendências judiciais de admissibilidade legal dos documentos electrónicos como prova documental”.
Para quem me conhece, e que de alguma forma troca palavras comigo sobre este assunto, sabe que criei algumas expectativas sobre o mesmo. Pois, facto é que, de entre muitas outras coisas, é uma questão que me tira algumas horas de sono (já tirou mais), que me faz pensar (faz-me pensar cada vez mais), que me impulsiona na busca pela solução (mesmo que não seja a perfeita, mas que possa vir a ser um dos caminhos).
Pensei que encontraria uma luz ao fundo do túnel para aqueles “ques”, assim algo novo que me ajudasse a tomar opções e traçar um caminho mais seguro (o máximo seguro possível), algo que de alguma forma, conjugado com o que penso serem as soluções, pudesse ser um caminho mais claro.
Enganei-me, mais uma vez.
Afinal esta minha angústia (legítima) é algo que é partilhado por alguns (já são alguns mas serão muitos mais), mas que a maioria nem sabe da sua existência (a grande maioria). E para esta angústia ainda não há solução (que não seja puro futurismo e conjectura), apenas um ligeiro clarear de águas turvas que, porém, não chega para minimizar o estado que me encontro, nem os estragos já existentes.
Interessante foi, também, verificar que a preocupação de muitos dos presentes prendia-se com “Ah! e como é que eu faço quando isso for para o arquivo histórico?”, “Que profissionais temos nós de formar para estarem aptos a tratar desta forma de criar e guardar informação?” A Estes não há resposta a dar. São questões que já não fazem sentido existir, que já deveriam estar ultrapassadas. Então só agora é que estão a ver que afinal vão ter de lidar com estas coisas das tecnologias (lidar não apenas na óptica do utilizador, mas também não apenas na óptica do informático)?
Felizmente, já existem bastantes profissionais da informação com preocupações reais, e uma dessas consequências é o RODA, todavia, e como se constatou, hoje, não é a solução. Até poderá ser um primeiro grande passo, mas não é a solução (pelo menos no quadro legal vigente).
Bem sei que muitos queriam que fosse esta a solução, seria até simpático, um repositório onde todos os documentos de arquivo em formato electrónico, possuidores de carácter probatório, assinados por uma assinatura electrónica certificada pudessem estar, e assim estaria garantido o valor probatório de uma forma quase eterna (para além daqueles anos com os quais já podemos contar – e agora futurismo: um dia serão mais anos).
Que custos isso acarreteria?
Mas, será que só é isso que se pretende?
Como reagem os produtores e todos aqueles que necessitam de informação (atempadamente) a esta possibilidade?
Será que é só isso?
É esse o admirável mundo novo?
Não escreverei mais hoje sobre isto.
Vou tentar olhar para a televisão e abstrair-me destas questões.
Nota bene: Morar no meio do Atlântico Norte não é impeditivo estrutural para a aprendizagem, desenvolvimento, conhecimento…
2 comentários:
Juro, que depois de ler, até eu me senti angustiada.
Não é fácil!
Minha querida amiga, nunca pensaste na razão da minha ida a esse workshop??
Vou partilhar contigo: Eu, já te conhecendo um pouco e já tendo partilhado contigo experiências semelhantes em formações na Capital, previ que saisses da mesma desiludida e sem respostas. A desorientação numa grande cidade pode ser perigosa e sabes como te estimo. Pensei:"Não posso deixar-lhe sozinha!! Tenho que ir com ela pra lhe dizer: Deixa lá, afinal não foi assim tão mau! Não vês que não estamos assim tão mal encaminhados no meio do Atlântico! Afinal eles não sabem mais que nós! etc!etc!"
Pois então, minha querida amiga, eles realmente podem saber um pouco mais do que eu que resisto (consciente ou inconscientemente) a atirar-me de corpo e alma à vertente tecnológica da informação. Contudo, não vão à tua frente! Vejo-te levantar questões e problemáticas que muitos ainda não pensaram! Vejo-te equacionar caminhos que muitos nem pensam ser possíveis!
É por estas e por outras (como me deixares tirar 6 cartões do metro quando só é necessário 1) que te admiro como pessoa e como profissional.
Dá-me orgulho partilhar contigo uma profissão que nos faz pensar tanto.
Para te oferecer tenho o meu sorriso constante e boa disposição quando ficas desanimada com os entraves que encontras nos outros :) Troca justa, não achas?
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