segunda-feira, setembro 24, 2007

Tédio e afins

Andei a deambular por alguns blogs, a ver algumas “bloguices” e coisas do género.
Não sei porque o fiz.
Bem. A verdade é que estava entediada.
Tipo: 1º dia pós-férias (e que férias!), deve ser dentro daquela coisa do pós-parto, ou pós qualquer coisa.

No fundo o que ressalta é o “pós”, sendo que o pós é algo como tido por melhor, benéfico e evoluído (embora não esteja bem a ver em quê?).

Facto é que me sinto meia assim... para o não sei bem o quê.

Como hoje estou assim o melhor será mesmo deixar para depois o colocar algo por aqui. É que vai na volta e a coisa toma proporções gigantescas e isto vire o maior circo?!? Era macacadas, palhaçadas, elefantadas.

Vá umas pipocas?
Se apetecer, sei de um sitio óptimo onde as encontrar, mediante a apresentação do BI e em troca de uma pequena quantia monetária indicarei o tal lugar.

Vá, é preciso ter calma, pois isto passa-me logo, logo.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Ausência

"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."


In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra poética I

sexta-feira, setembro 14, 2007

Alma

Assim, de repente,
como quem não se sente,
algo de avassalador assombrou a terra.
No profundo desconhecimento
ouviu-se gritar gentes
gritos etéreos de deslumbramento.
E como se não bastasse
ergueu-se ao fundo no espaço
um vulto encarnado, preto e alaranjado.
Onde hoje, como sob encanto,
bruma e nevoeiro,
vagueiam almas de um tempo que também é meu.

James «Aroma therapy»

By: Mark Tonra; James

Os pássaros

"Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem
Dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas."


In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Antologia - Círculo de Poesia

Como quem escreve com sentimento

"Estou sujeito ao tempo sou este momento
perguntam-me quem fui e permaneço mudo
o tempo poisa-me nos ombros em relento
partiu no vento essa mulher e perdi tudo

Já não virá ninguém por muito que vier
em vão esperei a rosa da minha roseira
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira

Resta-me um sonho desconexo e desconforme
Na haste da camélia que o vento quebrou
jamais a vida branca como ela dorme
Eu era essa camélia e nunca mais o sou

A minha vida é hoje um sítio de silêncio
a própria dor se estreme é dor emudecida
que não me traga cá notícias nenhum núncio
porque o silêncio é o sinónimo da vida

O mundo para além dessa mulher sobrava
tudo vida vulgar tumultuária e cega
o brilho do olhar equilibrava a chuva
nas suas costas hoje toda a luz se apaga

Mulher que um golpe de ar me pôde arrebatar.
enfim não existia ou só ela existia
Asas que ela tivesse deixou-as queimar
e tê-la-á levado estranha ventania

Daqueles traços fisionómicos de pedra
não quero já ouvir a voz que às vezes vem
na calma destacada por um cão que ladra
Não há ninguém perto de mim sinto-me bem

Cada casa que roço é escura como um poço
se sou alguma coisa sou-o sem saber
sossego solitário sem mistério isso
talvez tivesse sido o que sempre quis ser

As flores vinham nela e era primavera
mas tanto a nomeei e tanto repeti
erros numa estratégia imprópria para ela
tamanho amor expus que cedo a consumi

A noite quando ao fim descer decerto há-de
ser certa solução. Foi há muito a infância
Ao tempo o que tu tens tu bem o sabes cede
estendo as mãos talvez te fique a inocência

A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu sei
e apenas por a ter perdido a amamos tanto

Estou sozinho e então converso com a noite
das palavras que nos subjugam nos submetem
As coisas passam e em vez delas é aceite
o nosso sistema de signos onde as metem

Esta minha existência assim crepuscular
devida àquela que é rastos destroços restos
acusa hoje alguma intriga consular
de quem não tem cabeça a comandar os gestos

Foi uma rosa rubra a autora desta obra
aberta e arrogante grácil flor do instante
que triunfante não há coisa que não abra
para ferir quem a viu e morrer de repente

E noite sou e sonho e dor e desespero
mero ser sórdido e ardido e encardido
mas já não tarda a abrir-se na manhã que espero
um arco com vitrais aos vendavais vedado

E embora a minha fome tenha o nome dela
e da água bebida na face passada
não peço nada à vida que a vida era ela
e que sei eu da vida sei menos que nada"


In: BELO, Ruy, Despeço-me da Terra da Alegria - Todos os Poemas

Não, não é cansaço

«Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, não é cansaço, não é...
É eu estar existindo
É também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
[...]»


Álvaro de Campos

quinta-feira, setembro 13, 2007

Não: devagar

«Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.
Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão do momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
[...]»


Álvaro de Campos

terça-feira, setembro 04, 2007

Coisas


Por vezes é preciso passar para a outra margem sem olhar para trás, deixar os medos e as incertezas de uma margem e aderir com o coração aberto às incertezas e aos receios da outra margem. Vendo bem as coisas, essa passagem acarreta, em si só, a coragem de assumir novos medos, novas incertezas, mais esta ou aquela pedra a mover do caminho. Contudo, a experiência daquela pedra da primeira margem ensinou que nesta opte por telefonar a uma empresa especializada na área que remova a “dita cuja”.
Agora já não corro a pegar num martelo, depois num berbequim, mas tarde novamente o martelo, e por fim, exausta, procurar nas páginas amarelas o contacto de uma empresa que remova a pedra. Agora, na outra margem, chamo a tal empresa, que melhor do que ninguém sabe como proceder da forma mais eficaz e eficiente na remoção de tal pedra. Mais ainda, nem será preciso procurar o contacto nas páginas amarelas, pois anotei, e mais ainda, da outra vez perguntei se faziam serviços na outra margem.
Bom mesmo é saborear um gelado mole de chocolate e com bolachas partidas aos bocados espalhadas até não poder mais.
Sei lá o que o gelado tem a ver com a outra margem. Facto é que gosto de gelado de chocolate.
E Marte. O que é que o mar gelado de Marte tem a ver com tudo isto?


Foto by: 2005© European Space Agency

segunda-feira, setembro 03, 2007

Hoje

Hoje acordei assim...
Em sobressalto
Num salto
Hoje estou assim...

Hoje fiquei assim...