Em tons de negro
Ao som do vento
Em sabores de saudades
Na ânsia do querer
Sinto a noite entrar em mim
. Caminhando "Fiel à República, à liberdade, à democracia, ao socialismo e, sobretudo, fiel a Portugal e ao povo português" Manuel alegre .
terça-feira, dezembro 18, 2007
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Só porque é nesta quadra
E agora não é para dizer que só estou a pensar nas prendas.
Já agora, permitam-me que vos chame atenção ali para a lesminha, perto da àrvore, assim onde começa a sombra, no canto inferior direito. Mais informo que a mesma possui uma botija de àgua quente, um cachecol e um gorro que lhe cobre os seus pequenos olhos.
[devido a problemas de ordem técnica foi retirada a linda àvore de natal que aqui se encontrava, e, com ela, a lesminha decidiu emigrar para um país nos trópicos.]
sábado, dezembro 08, 2007
sábado, dezembro 01, 2007
segunda-feira, novembro 26, 2007
domingo, novembro 25, 2007
O prometido é devido
Era uma vez uma rua muito, mas muito, estreita, com passeios muito, mas muito, minúsculos.
Um dia essa rua começou a ver uma parte do seu passeio a tomar conta da rua. Pensaram todos que por lá passavam, durante tal intervenção:
– É desta que teremos aqui uns passeios mais largos. Passeios que nos permitam manter os dois pés fora da rua.
Porém, assim como quem não tá mesmo nada a prever, começa a surgir algo de estranho naquele alargamento do passeio. Pensaram agora todos os condutores que por lá passavam:
– É bem, vão colocar mais uns parquímetros por aqui. – e, aborrecidos, com mais uma máquina daquelas a povoar as ruas da nossa Ponta Delgada, prosseguiam caminho.
Todavia, vai que de um momento para o outro, surge algo assim para o “grandote”, preto, parecia nem sei bem o quê. Todos que por aquela rua passavam interrogavam-se:
– Mas que vem a ser isto? Que vem a ser isto?
E assim, como se de algo muito básico se tratasse ouviu-se alguém murmurar:
– É arte, é a arte meus amigos. Arte para vos entrar pelos olhos e esbarrarem nela.
Agora um exercício muito oportuno.
Imaginem que não conseguem ver. Sim, cegos mesmo, não os distraidos.
Imaginem lá, rua estreita, passeio esguio, passeio um pouco mais largo, vaso de flores, objecto não identificado pelo meio, mais um vaso de flores, passeio novamente esquio.
Certo que para um invisual é já bastante difícil percorrer as lindas ruas estreitas da minha linda cidade. Contudo, mais certo é que obstáculos como estes jamais deveriam ser colocados num passeio, mesmo sendo “obras de arte”.
Para concluir, e na tentativa de vos dar a conhecer o autor de tal escultura, capturei aquilo que julgo se a sua assinatura (julgo que deve ser a digital, pois não percebi nada da suposta inscrição que lá está).
Fotos by: eu mesma
sexta-feira, novembro 23, 2007
Vamos reflectir
Primeiro pensei que seria uma escultura nova que haviam colocado lá naquele sítio, a ver se o pessoal começa a olhar para a arte de frente (parecida a uma que se encontra na nossa linda cidade de Ponta Delgada, num passeio minúsculo e que nada mais é um obstáculo a quem passa – um dia destes dedico um post a essa escultura). Claro que essa ideia até me entusiasmava, mas... qual não foi o meu espanto ao ver que afinal aquilo servia era para evitar que o pessoal suba as escadas rolantes com os carros das compras, ou, pior ainda, com os carrinhos de bebés (“vá-se lá” saber se também levariam os bebés dentro).
Facto é que subi as escadas sempre a pensar em naquilo.
Possa - dizia para comigo - será que era mesmo preciso colocar aquelas duas barras ali? E continuei a pensar até chegar ao sitio do “cafezito”. (Já vos disse que sou viciada em café?) Sim, fui para o café, pois a vontade de ir às compras no piso superior passou-me. Afinal eu já estava acordada.
Depois cheguei a uma conclusão, pois, realmente, para colocarem aquilo ali é por ter havido com regularidade quem andasse com os tais veículos de rodas nas mesmas.
É deprimente saber que existe quem coloque a sua vida, e, pior ainda, a vida dos outros em perigo num local público e movimentado como aquele.
Gerência do meu sitio habitual de compras agradeço-te com todas as forças das minhas entranhas, e mais, acho que poderiam ter feito algum lucro se tivessem aplicado uma caução a quem se atrevia a fazer tal escalagem.
Que Deus me dê muita saúde nos pulmões para que eu continue a fumar muito (não tem nada a ver mas apeteceu-me).
quarta-feira, novembro 21, 2007
Camila e a palheta azul
Estava eu a sair de casa de carro, aí cerca das 21h, quando, de repente, olho para o espelho direito do carro e, qual não é o meu espanto, vejo Camila a iniciar-se numa nova aventura. Dependurada, esvoaçante encontrava-se Camila nos seus primeiros passos de aranha voadora, cabelos ao vento, em risco de partir uma das pernitas.
Confesso que me assustei, estarreci, estremeci com tal visão. Vi Camila pendura por um mísero fio da sua linda teia.
Parei o carro. Agarrei numa palheta azul que tenho próxima do relógio da viatura, abri a janela e coloquei Camila de volta no espelho.
Depois do susto, chegou a hora do ralhamento, contudo, ela ignorou-me, virou as costas e nem agradeceu o salvamento.
Realmente não sei o que faça com Camila.
Facto é que adoro aquela super-aranha.
P.S. : Para mais informações sobre a Camila consulte “post” antigo.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Carta ao pai natal
Espero, sinceramente, que esse descanso imenso tenha-te feito renascer.
Confesso que senti a tua falta ao longo do ano.
A verdade é que me fazes muita falta.
Sabes, ainda interrogo-me do porquê de te ausentares durante tanto tempo e de nunca ter conseguido ver essas tuas barbas (que dizem ser brancas).
Mas não é por isso que te estou a escrever.
Como tu sabes o Natal aproxima-se e não quero correr o risco desta mensagem chegar atrasada. Vá que os carteiros lembram-se de fazer greve novamente? Era uma chatice, não era? Entraria, de certeza, num período de depressão pior do que aquela a que chamam de pós-parto. A minha seria mais pós-presente-algum.
Isto seria uma calamidade.
Olha, pai natal, queria dizer-te que me portei muito bem este ano, mas mesmo muito bem. Ora vê lá tu, quando era mesmo para me portar mal, assim com motivos mais que suficiente para me portar mal, e olha que até o menino Jesus se portaria mal se estivesse perante tais motivos, a verdade é que me portei bem, e tu bem sabes como isso antes era bem complicado para mim.
Bem, passemos a diante, às coisas que realmente importam. Estou a escrever-te estas linhas pois vi algo muito giro, que até penso que deverias ter. Assim, uma coisa muito gira que é fundamental para a vida de hoje em dia. Pois, pai natal, tu sabes bem que controlar o tempo é fundamental na azáfama a que estamos sujeitos. Vai daí que, ao ver tal coisa, achei que deveria dizer-te que é essa coisa que gostaria de ter como presente de natal. Porém, e presta atenção se faz favor, não podes começar a pensar no custo benefício da coisa, deverás antes pensar apenas no benefício, que é o que realmente importa, ou seja, a contagem e controlo do tempo.
E antes de acabar vou deixar-te aqui uma imagem da coisa em si para que não tenhas qualquer dúvida e não te enganes com algo que julgues ser parecido.
Agora não me lembro de mais nada, por isso vou acabando com estas linhas.
Um grande beijo, desta tua crente.
P.S.: Não te esqueças da parte do benefício.
sábado, novembro 17, 2007
Hoje é Sábado
Sim, por que hoje é Sábado é fundamental fazer um balanço sobre a semana, os dias em geral. E não é que dou por mim a pensar no dia de hoje. Apenas no de hoje.
Certo que de manhã fui ao Mercado (Safari Tropical), confesso que ainda meia a dormir, pois, deitei-me hoje (sim hoje de madrugada, já passava das 3h am – e não me perguntem o porquê). Aquele movimento estava a dar-me a volta à cabeça. Claro que me dirigi apressadamente ao café lá do sitio, e vai do outro lado do balcão aquela voz maravilhosa a perguntar:
“- Café? Não é menina?”
Aquilo foi música para os meus ouvidos. Sentir a máquina a triturar os grãos de café, depois aquele cheiro a encher-me a alma (a verdade é que tentei que o momento perdurasse) e, finalmente, o sabor, aquele doce sabor do café. Bebi-o e ao mesmo tempo fumei o cigarro da manhã que melhor me sabe (sim, pois aquele não foi o primeiro).
Agora sim, pensei eu.
Estou pronta.
Vamos lá ver as lagartas e os caracóis nas couves e nabiças e tentar não levar um deles para casa, pois não me apetece adoptar mais algum animal de estimação.
Por falar nisso. A Camila está de saúde e manda abraços a todos.
quinta-feira, novembro 15, 2007
5ª feira (É um bom título, certo? )
(Enquanto penso no que poderei escrever vou fumegando um cigarro.)
Hoje disseram-me: “Querida, tens de deixar de fumar!”
Fiquei a pensar em tais palavras.
1º “Querida” – mas a que carga de água sou querida para quem me disse isso?
2º “tens de deixar de fumar” – possa, porque haveria de deixar este vício? E há que convir que aquele verbo no imperativo não foi algo lá muito positivo.
Depois ainda acrescentaram, "... não é pelos outros mas por ti.”
Claro que tudo o que eu faço é primeiramente por mim, depois os outros, salvo raras excepções (julgo eu). Até penso que sou uma pessoa bastante egoísta, mas enfim sou assim.
Ahah! Lembrei-me agora da Gabriela - personagem de uma telenovela brasileira (não me recordo do nome) que povoou o ecran dos televisores portugueses durante meses.
“Eu nasci assim, eu cresci assim [...]" (o resto não me lembro, mas deve acabar, assim, do género: eu morri assim).
Vou acabar este meu cigarro e parar com os disparates.
segunda-feira, novembro 12, 2007
A ideia luminosa I
Estas preocupações em vez de tenderem a desaparecer parecem que se agrupam transformando-se.
Hoje soube que vão fechar ao transito uma rua por onde passo todos os dias, pior, mas muito pior, foi saber que será durante cerca de 4 meses (e conhecendo como conheço os 4 meses previstos...).
É certo que há obras que se têm de fazer, mais que certo, até acho que se deveriam fazer muitas mais. Só que me parece um pouco ilógico realizá-las quando se aproxima o inverno (que como se sabe aqui nas ilhas não é nada chuvoso).
Ora vejamos, já estive a elaborar os percursos alternativos.
Pensei e voltei a pensar, e passei-me. Afinal estes percursos alternativos até não são maus, mas depois tive de contabilizar o tempo a ver qual seria a melhor solução.
Claro que ainda tentei verificar a distancia, mas como neste momento é o que menos importa, dediquei-me ao tempo.
Cheguei à brilhante conclusão que afinal vou ter é de alterar, e em muito, a hora que tenho de sair de casa. Mudar a hora de saída não é mau, não senhora. Agora resta saber se saio mais cedo ou mais tarde. Se sair mais cedo apanho as filas de transito, esta é uma garantia. Se sair mais tarde chegarei mais tarde ao local de trabalho.
Confesso que continuei a pensar.
Coloquei a hipótese de dormir no local de trabalho, mas esta nem é muito viável. Imagine-se lá a trabalheira que seria mudar as “coisitas” para lá!?
Logo eu que ainda nem fiz a minha mudança de casa. Sim, pois comprei um apartamento e ainda só lá estão os móveis e os electrodomésticos, e note-se que fiz tal aquisição no passado mês de Agosto ( Ok. Eu sei. Não é normal. Mas esta minha forma de ser ficará para outro post.)
Para acabar com esta conversa toda, e relativamente à minha grande preocupação, vou é ter de dormir sobre o assunto e esperar que a minha presidente de câmara não tenha mais nenhuma ideia luminosa.
A ideia luminosa
E porque não escolhem outra rua? Ah?
Bem, na verdade não é por causa do transito, mas sim devido às brilhantes cabeças que decidem alterar os sentidos das ruas e colocar semáforos onde bem entendem.
Claro que logo se vê que não devem passar por ali, muito menos a conduzir.
O escoamento difícil do centro de Ponta Delgada jamais se deveu à falta de um semáforo naquela rua. Tornou-se complicado, sim, quando não se avaliou o impacto das tais alterações causariam.
Agora estou para aqui a pensar que gostaria muito mais que aquele semáforo fosse a nova iluminação de natal da minha querida Berta Cabral.
domingo, novembro 11, 2007
sábado, novembro 03, 2007
quinta-feira, novembro 01, 2007
domingo, outubro 28, 2007
quarta-feira, outubro 24, 2007
Estudo sobre o mar
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
2007
ondula meus sentidos
embriaga-me com teu cheiro
envolve-me com as tuas águas
deixa-me naufragar
Foto by: eu mesma
domingo, outubro 21, 2007
Lembrança na pele
euforia
regaço do meu cansaço
saudade eterna
fonte de vontade
amor
harmonia
descanso dos sentidos
porto seguro
abrigo
Magia
euforia
inquietação
força estonteante
lembrança cravada na pele e na alma
terça-feira, outubro 16, 2007
Livro Azul
1. Termo que designa um conjunto de textos diplomáticos sobre uma determinada questão publicados por um governo para conhecimento do público, também denominado livro branco.
Nos Estados Unidos, “livro azul” refere-se a uma lista oficial de todas pessoas que trabalham no governo e também a uma publicação oficial: Biennal Register.
Na Grã-Bretanha o termo designa um relatório parlamentar publicado pelo governo britânico. O termo “livro azul” é também utilizado para referir um livro onde constam as pessoas consideradas proeminentes na sociedade.
O Livro Azul, de Ludwig Wittgenstein, é um conjunto de notas filosóficas que o autor ditou aos seus alunos de Cambridge entre 1933-34 sobre questões de linguagem, de sentido e de interpretação. Foi designado assim devido à cor da capa. (O mesmo autor escreveu ainda O Livro Castanho, obra mais completa onde desenvolve as ideias apresentadas anteriormente e apresenta novas questões.)
2. O termo designa ainda um caderno azul, cujo interior está em branco, utilizado nas universidades para a redacção das respostas às questões de um exame."
Isabel Galucho
In: http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/livro_azul.htm (20071016)
sábado, outubro 13, 2007
Metade
fica sempre algo por dizer.
palavras soltas
desencontradas
aninhadas a um canto
à espera de aparecer
... sou metade algo
memória gasta
vitória menos conseguida
meio caminho percorrido
e a vontade de correr
... sou metade algo
estranha inquietude...
quinta-feira, outubro 11, 2007
Camila
de cima para baixo
da esquerda para a direita
passa horas
horas sem fim naquilo
fio para um lado
fio para o outro
prende aqui
prende ali
incansável
debate-se com o vento
a chuva
o frio
desafia as forças da natureza
da gravidade
destemida
dotada de uma precisão divina
refaz, diariamente, a sua teia
Camila é a aranha que habita o espelho retrovisor esquerdo do meu carro.
(A fotografia dela ficará para mais tarde - não é fácil, mas ainda não desisti.)
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
terça-feira, outubro 09, 2007
sábado, outubro 06, 2007
segunda-feira, setembro 24, 2007
Tédio e afins
Não sei porque o fiz.
Bem. A verdade é que estava entediada.
Tipo: 1º dia pós-férias (e que férias!), deve ser dentro daquela coisa do pós-parto, ou pós qualquer coisa.
No fundo o que ressalta é o “pós”, sendo que o pós é algo como tido por melhor, benéfico e evoluído (embora não esteja bem a ver em quê?).
Facto é que me sinto meia assim... para o não sei bem o quê.
Como hoje estou assim o melhor será mesmo deixar para depois o colocar algo por aqui. É que vai na volta e a coisa toma proporções gigantescas e isto vire o maior circo?!? Era macacadas, palhaçadas, elefantadas.
Vá umas pipocas?
Se apetecer, sei de um sitio óptimo onde as encontrar, mediante a apresentação do BI e em troca de uma pequena quantia monetária indicarei o tal lugar.
Vá, é preciso ter calma, pois isto passa-me logo, logo.
segunda-feira, setembro 17, 2007
Ausência
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."
In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra poética I
sexta-feira, setembro 14, 2007
Alma
como quem não se sente,
algo de avassalador assombrou a terra.
No profundo desconhecimento
ouviu-se gritar gentes
gritos etéreos de deslumbramento.
E como se não bastasse
ergueu-se ao fundo no espaço
um vulto encarnado, preto e alaranjado.
Onde hoje, como sob encanto,
bruma e nevoeiro,
vagueiam almas de um tempo que também é meu.
Os pássaros
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem
Dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas."
In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Antologia - Círculo de Poesia
Como quem escreve com sentimento
perguntam-me quem fui e permaneço mudo
o tempo poisa-me nos ombros em relento
partiu no vento essa mulher e perdi tudo
Já não virá ninguém por muito que vier
em vão esperei a rosa da minha roseira
quando um pássaro sai dos olhos da mulher
é porque ela é de longe e não da nossa beira
Resta-me um sonho desconexo e desconforme
Na haste da camélia que o vento quebrou
jamais a vida branca como ela dorme
Eu era essa camélia e nunca mais o sou
A minha vida é hoje um sítio de silêncio
a própria dor se estreme é dor emudecida
que não me traga cá notícias nenhum núncio
porque o silêncio é o sinónimo da vida
O mundo para além dessa mulher sobrava
tudo vida vulgar tumultuária e cega
o brilho do olhar equilibrava a chuva
nas suas costas hoje toda a luz se apaga
Mulher que um golpe de ar me pôde arrebatar.
enfim não existia ou só ela existia
Asas que ela tivesse deixou-as queimar
e tê-la-á levado estranha ventania
Daqueles traços fisionómicos de pedra
não quero já ouvir a voz que às vezes vem
na calma destacada por um cão que ladra
Não há ninguém perto de mim sinto-me bem
Cada casa que roço é escura como um poço
se sou alguma coisa sou-o sem saber
sossego solitário sem mistério isso
talvez tivesse sido o que sempre quis ser
As flores vinham nela e era primavera
mas tanto a nomeei e tanto repeti
erros numa estratégia imprópria para ela
tamanho amor expus que cedo a consumi
A noite quando ao fim descer decerto há-de
ser certa solução. Foi há muito a infância
Ao tempo o que tu tens tu bem o sabes cede
estendo as mãos talvez te fique a inocência
A vida é uma coisa a que me habituei
adeus susto e absurdo e sobressalto e espanto
A infância é uma insignificância eu sei
e apenas por a ter perdido a amamos tanto
Estou sozinho e então converso com a noite
das palavras que nos subjugam nos submetem
As coisas passam e em vez delas é aceite
o nosso sistema de signos onde as metem
Esta minha existência assim crepuscular
devida àquela que é rastos destroços restos
acusa hoje alguma intriga consular
de quem não tem cabeça a comandar os gestos
Foi uma rosa rubra a autora desta obra
aberta e arrogante grácil flor do instante
que triunfante não há coisa que não abra
para ferir quem a viu e morrer de repente
E noite sou e sonho e dor e desespero
mero ser sórdido e ardido e encardido
mas já não tarda a abrir-se na manhã que espero
um arco com vitrais aos vendavais vedado
E embora a minha fome tenha o nome dela
e da água bebida na face passada
não peço nada à vida que a vida era ela
e que sei eu da vida sei menos que nada"
In: BELO, Ruy, Despeço-me da Terra da Alegria - Todos os Poemas
Não, não é cansaço
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, não é cansaço, não é...
É eu estar existindo
É também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
[...]»
Álvaro de Campos
quinta-feira, setembro 13, 2007
Não: devagar
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.
Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão do momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
[...]»
Álvaro de Campos
terça-feira, setembro 04, 2007
Coisas
Por vezes é preciso passar para a outra margem sem olhar para trás, deixar os medos e as incertezas de uma margem e aderir com o coração aberto às incertezas e aos receios da outra margem. Vendo bem as coisas, essa passagem acarreta, em si só, a coragem de assumir novos medos, novas incertezas, mais esta ou aquela pedra a mover do caminho. Contudo, a experiência daquela pedra da primeira margem ensinou que nesta opte por telefonar a uma empresa especializada na área que remova a “dita cuja”.
Agora já não corro a pegar num martelo, depois num berbequim, mas tarde novamente o martelo, e por fim, exausta, procurar nas páginas amarelas o contacto de uma empresa que remova a pedra. Agora, na outra margem, chamo a tal empresa, que melhor do que ninguém sabe como proceder da forma mais eficaz e eficiente na remoção de tal pedra. Mais ainda, nem será preciso procurar o contacto nas páginas amarelas, pois anotei, e mais ainda, da outra vez perguntei se faziam serviços na outra margem.
Bom mesmo é saborear um gelado mole de chocolate e com bolachas partidas aos bocados espalhadas até não poder mais.
Sei lá o que o gelado tem a ver com a outra margem. Facto é que gosto de gelado de chocolate.
E Marte. O que é que o mar gelado de Marte tem a ver com tudo isto?
Foto by: 2005© European Space Agency
segunda-feira, setembro 03, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
...
sob o seu manto negro de silêncio,
a brisa que passa dir-te-á que te penso,
que a tua ausência me incomoda,
que o teu sorriso me falta
sem que eu perceba a razão de tudo isso...
...
e que o estado das coisas se imprecisa,
a tua ausencia toma corpo
por entre os aromas das flores...
Onde o sorriso?
Onde o beijo da ave mansa
prometido a contra-luz?
Onde tu...
A coisa do título... fica para a próxima.
Sei que alguns se interrogam por tal facto estar a acontecer, também sei que outros nem colocam qualquer questão.
A verdade é que fiz as pazes com a poesia, não são umas “pazes” recentes (isso não são), contudo, tenho de admitir que é aquela coisa de “[...] Tive a coragem de aceitar as nossas diferenças e passei adiante.” ( in: TONRA, Mark; James; Lisboa; Gradiva, 2002).
No entanto, essa coisa da aceitação acarreta, por si só, um leve sentimento de culpa, devido aos anos de negação, e este sentimento está plasmado (como é bem visível) pela “postagem” (essa coisa da gíria bloguista intriga-me, tenho de admitir) de alguns poemas de minha eleição.
Todavia, e atendendo ao facto de estar a tornar públicas aquelas “pazes”, as tais “postagens” poéticas tenderão a desaparecer.
A ver vamos.
sábado, agosto 25, 2007
El Cristo
Nos brota, cá dentro, como sangue
Duma facada. E tinge de vermelho
O verbo dos Profetas.
E el Cristo Rojo resplandece,
De pé, transfigurado,
Sobre um penhasco asturiano
Ou do Tabor...
PASCOAES, Teixeira de; Últimos Versos, p. 62
Foto in: www.instituto-camoes.pt/cvc/filosofia/1910a.html
terça-feira, agosto 21, 2007
Trapo
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Anticipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei: a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros - isso tenho eu em mim.
[...]"
Álvaro de Campos
domingo, agosto 19, 2007
E não tem nada a ver...
Aquela minha forma de olhar o Homem tornou-se então clara, obvia, e acima de tudo ainda mais interiorizada.
(Convém esclarecer que olho o Homem sempre como algo bom, positivo, criado para o bem e, como tal, propulsor do mesmo)
No entanto, é necessário salientar que o tal lado perverso, mesquinho e mau do Homem é também por mim conhecido. Assim, e consciente de tal facto, por vezes sinto vontade de “abanar” tais mentes cristalizadas, empobrecidas, empoeiradas e gastas pelo não uso do intelecto.
Lá parto eu numa epopeia angustiante, numa viagem desgastante, na tentativa de tentar mudar algo. Muitas vezes aporto meu bote num pequeno cais, e, cansada, sinto saudades de “casa”, com vontade de deixar ali os remos e regressar de avião (sim, que este meio é mais rápido que o bote. Felcom, para que fui eu de bote?).
Porém, não desisto. Tento mais uma vez, e mais uma vez e, ainda, mais uma vez (na vã ambição de algo poder ser diferente).
Contudo, o dia chega que me faz cair por terra, deixar o bote, abandonar os remos, comprar o bilhete de avião e tomar o voo com menos escalas de regresso a casa.
Desisti?
Fracassei?
Era vã a minha ambição?
Não. Apenas precisei encontrar novamente o conforto, a simplicidade, a clareza das ideias.
quarta-feira, agosto 15, 2007
E não me apetece colocar título...
Facto é que tenho dado por mim num incessante acto introspectivo, em que a abundância dos assuntos sucede-se à velocidade da luz. (c’o caneco, já não bastava serem muitos para também serem velozes.)
Claro que não será necessário dizer que fico danada, meia endrominada e com um humor dos diabos (que diga o contrário quem quiser, porém alerto que deverão medir e considerar bem os riscos).
E era suposto escrever mais, não era?
Fica essa sensação, não fica?
Vá, é colocar aqui o endereço electrónico que darei conta do final de forma personalizada.
Sou mesmo tão querida.
segunda-feira, agosto 13, 2007
terça-feira, julho 31, 2007
sábado, julho 21, 2007
Vindimas...
impregnava-se-nos na roupa, tudo ali sabia, latejava, gritava vindimas.
Lembro desse ar envolver tudo e todos,
desde o bebé ao mestre idoso da casa.
Lembra o sabor das vindimas
os olhos dos homens e mulheres
trabalhando arduamente sob um sol de Setembro,
enquanto nós miúdos saltitavamos entre eles
nas correrias até à figueira, ou à casa das alfaias.
Lembra o sabor das vindimas
o rosto doce de meu avô, mestre idoso da casa.
Lembra o sabor das vindimas
o olhar azul sereno de minha avó,
a sua caixa de botões,
o cheiro do seu cabelo branco.
Lembra o sabor das vindimas
a imagem de um passado que desejo presente.
sábado, julho 14, 2007
Eu
Sou complicada!? Certo.
E depois!?
Quero lá saber se há quem não goste. Eu sou assim, amo-me assim mesmo.
Claro que entro muitas vezes em conflito comigo mesma. Mas que importa!? Isto é comigo. Quem não gosta é favor deixar na beira, sem estragar, para que quem venha a seguir possa aproveitar (canso-me de dizer isto, mas parece que não levam muito a sério).
Na verdade, sei aceitar estas minhas diferenças. Afinal não me custa assim tanto conviver comigo mesma. Basta tentar.
Vai um xupa-xupa?
Queriam, "né"? Pois eu também.
sábado, julho 07, 2007
Anoitecer
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Momentos como este fazem-me pensar que tudo pode ser diferente, simples, sem "ses" sem "mas" apenas ali.
terça-feira, julho 03, 2007
Estudo sobre o céu
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
Madeira - 2006
Bem, na verdade, foi mesmo a máquina fotográfica e sem querer.
É isso
Ando às voltas e nada.
Possa, mas é mesmo nada.
Nada se passa.
É claro que tenho um sapo verde no meu blog e até gosto dele, é fofo, carinhoso e tem uma paciência enorme (assim como eu). Quanto ao caracol, amo-o. É vê-lo ali quietinho só mexendo as antenas para manter o equilíbrio (persistente como eu).
Parece-me que ter um sapo e um caracol aqui no meu blog passou a fazer todo o sentido.
Já agora, não se esqueçam de salvar o priolo, o cagárro, o canário, o melro negro, as baleias, o sapo, o caracol e bichos afins.
Também queria saber se alguém estaria interessado num gatinho? (Sei de quem gostaria de ter um, mas, Gucci, terás de esperar pelo próximo que se atravessar no teu caminho.)
segunda-feira, julho 02, 2007
José Luis Peixoto
sexta-feira, junho 29, 2007
Hoje sinto-me assim
Hoje estou que nem posso… Mas é sexta-feira, é suposto sentir-me mais leve, mais qualquer coisa que não sinto.
(Pausa prolongada)
Agora até fiquei preocupada.
Querem ver que eu mudei esta semana?
A verdade é que mudei, mudo um pouco todos os dias. Uns dias sapo, outros dias caracol, outros “sapo/caracol”, se bem que na maior parte dos dias sou “sapo/caracol”. Esta última hipótese é bem mais flexível e ajudará todos aqueles que, diariamente, têm a obrigação de lidar comigo (tenho de lhes aliviara tensão). Este meu lado humanista… bem “C’o caneco” vou passar adiante.